segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Um texto para refletirmos!


Pais e Filhos

Companheiros de Jornada
Rita Foelker

Ser perfeito não é se encaixar num molde de pessoa ideal.
Calunga*


Boa parte de nossas vidas vivemos de imaginar papéis e de tentar vivê-los, de atribuir papéis aos que nos cercam, e esperar que os vivam. Isto é ainda mais evidente quando se fala de pais e filhos.
A maioria dos pais e mães tem uma imagem de paternidade e de maternidade construída ao longo dos milênios e do processo educativo e social, das influências da mídia e dos pais que teve, e projeta para si um ideal de conduta perante os filhos. Mesmo quando discordamos dos pais que tivemos e decidimos adotar outras maneiras de agir, ainda assim não podemos negar que o que fazemos tem relação com o que fizeram.
Muito do que projetamos para nós também tem a ver com o modo como queremos ser vistos no nosso círculo de relações (família, colegas, amigos): cuidadosos, previdentes, interessados no bem-estar e no futuro dos filhos.
Mas se pararmos para pensar no papel de pai que decidimos viver, encontraremos nele certas características: é afetuoso ou distante, preocupado ou laissez-faire, flexível ou autoritário, exigente ou liberal...
E este papel assumido, além de não ser garantia de que nos tornamos bons pais, nem sempre tem a ver com o modo como realmente sentimos, dentro de nós.
Bem nos lembrava J.A. Gaiarsa, em Minha Querida Mamãe (Ed. Gente), de que as famílias funcionam muito mais a partir das expectativas e imposições entre seus membros que da percepção de si mesmo e do outro. Definimos deveres recíprocos e isto nos poupa de olhar olho no olho, de prestar atenção na criatura que vive conosco, de observar se ela é feliz e se nós mesmos estamos felizes com o modo de vida que adotamos.
Pensamos, por exemplo, em proporcionar cultura, diplomas, bens, como sendo grande parte da função dos pais. E imaginamos que os bens e os diplomas que vamos deixar para ele vão substituir as inúmeras horas de convivência que passamos tensos ou indiferentes às suas necessidades. Contudo, pensando melhor, vemos que a posse de coisas e o saber acadêmico não substituem a realização interior que deve acompanhá-los, e que eles podem descobri-la conosco, observando nosso modo de lidar com nossos bens e conhecimentos. No entanto, como fazemos isto?...
E no relacionamento familiar? Será que interiorizamos clichês do tipo: mãe de verdade faz assim, pai que é pai jamais permitiria tal coisa? E economizamos nossa sensibilidade, tantas vezes embotada por falta de uso, aplicando jargões num terreno que é dos mais importantes de nossas vidas: na educação de nossas crianças. E ainda usamos tais frases, freqüentemente, acompanhadas de: que diriam nossos amigos ou vizinhos, se agíssemos diferente?...
Talvez seja hora de nos preocuparmos menos com o que pensam os outros e de tentar compreender o que pensam os nossos filhos.
De entrar em contato com o que realmente sentimos ser bom para nós e para nossa família. De checar nossas crenças arraigadas e antigas, se todas continuam valendo.
De verificar que temos inseguranças e incertezas como qualquer ser humano e não precisamos ter vergonha de assumi-las abertamente.
Pais nem sempre tem razão. Pais podem eventualmente não saber que atitude tomar. Pais sempre podem pensar melhor sobre o que foi dito. Pais podem aprender algo com seus filhos. Podem reconsiderar sem perder a autoridade e o respeito.
Que neste 2002, se posso desejar isto, desejo que todos estes pais que vêm sofrendo para caberem num ideal de pai e de mãe onisciente e previdente, sempre seguro e dono da verdade, despertem para a verdade.
O preço mínimo desta ilusão é a hipocrisia e o distanciamento, e certamente não desejamos pagá-lo. Afinal, nossos filhos até podem encontrar ombros e ouvidos em muitos lugares, felizmente. Mas se lhes perguntássemos, saberíamos que eles prefeririam ter os ombros e ouvidos, a atenção, a compreensão e o carinho de seus pais.


*Em Pensamentos que Resolvem, Ed. GIL.


Fonte: http://www.espirito.org.br/portal/artigos/rita-foelker/pais-e-filhos.html (11/01/2002)

2 comentários:

  1. Gabriela, gostei muito do texto. hoje fiquei feliz quando vi seu blog. Evangelizei por um tempo mas me senti um pouco perdida, apesar de ser educadora. Falta de material, orientações, isto ou aquilo... Pretendo voltar com a evangelização, mas mais segura e com orientaçoes. Não sei se entendeu meu desabafo, mas fiquei feliz por te encontrar. Abraço fraterno.
    Janaine - Juatuba
    janainepires12@hotmail.com

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  2. Que bom, Janaine!
    Fico muito feliz!
    Espero que este blog possa te auxiliar bastante.
    Se tiver alguma sugestão ou algo que possa lhe ajudar, é só falar.

    Um grande abraço.

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